terça-feira, 23 de junho de 2009

Jornalista sim! Com muito orgulho!

Acompanhe a opinião de Patrícia Regina Schuster, jornalista e mestranda em Desenvolvimento Regional, a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal de considerar desnecessário o uso do diploma para o exercício do jornalismo. Leia.


Jornalista sim! Com muito orgulho!

"Concordo com todos aqueles que defendem que a prática jornalística está diretamente relacionada à liberdade de expressão e que a divulgação das informações pelos veículos deva acontecer em plena consonância com essa premissa. Também rendo-me àquelas opiniões que advogam por alguns profissionais que atuam há muitos anos no mercado e fazem um trabalho brilhante. Contudo, foi um verdadeiro absurdo o que aqueles “nobres” senhores do Supremo Tribunal Federal (STF) fizeram – muito mais que isso: disseram – a respeito da profissão diplomada do jornalismo. Eles decidiram pela não obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício da profissão. Os argumentos apresentados são todos refutáveis. Alegaram uma espécie de cerceamento à liberdade de expressão. Ora, basta acessarmos a internet que veremos sites com as mais diversas posições de todos os segmentos da sociedade. A imprensa nunca foi tão livre quanto agora. A exigência do diploma, portanto, nada tem a ver com este aspecto. Outro fator apresentado é de que muitos profissionais – mesmo com o famoso canudo em mãos – faltam com os princípios de ética, moral e atuam de forma espúria. Convenhamos, quando foi que a academia garantiu que algum profissional – fosse ele médico, advogado, dentista ou mesmo ministro da República – seguisse preceitos como esses? Trata-se de uma postura individual e, embora os cursos universitários “ensinem” os códigos de ética – nós, do Jornalismo, temos uma disciplina chamada Ética e Legislação –, a escolha por respeitá-los ou não parte de concepções ímpares. Mas, na verdade, não é essa a principal lição que a passagem pelos bancos acadêmicos tem a deixar. Muito menos é “instruir” como se escreve um lead ou “apertar os botões” em uma ilha de edição. É função de qualquer curso de graduação oferecer ao aluno uma formação teórica. Ajudá-lo a desenvolver seu pensamento crítico, ensiná-lo a realizar pesquisas, enfim... Se os jornalistas não precisam aprender isso, pergunto: outros profissionais também não? O jornalismo contemporâneo exige que o jornalista seja cada vez menos técnico e cada vez mais analista político e social. A consolidação de tecnologias multimídias e a própria democracia fizeram do jornalismo o espaço público por excelência. Assim, profissionais capazes de interpretar os conflitos gerados nesse contexto e de lidar com a multiplicidade de fontes (cujos interesses são os mais diversos imagináveis) são formados pelas universidades e não através de outro tipo de relações, como as clientelistas, para mencionar um exemplo. Infelizmente, nós que passamos pelas universidades deste País que oferecem o curso de Jornalismo, perdemos essa batalha. Aliás, não poderíamos esperar nada diferente de um governo que deixa a educação em último (quase isso) plano. É lamentável, mas vivemos num País que não respeita aqueles que se formaram, de forma honesta e séria (em grande parte das vezes). Não bastasse o fato “deles” terem menosprezado aquilo que para alguns de nós significou renúncia, esforço descomunal, como foi o meu caso que estudei nove anos e meio para me formar, fomos igualados a cozinheiros. Admiro essa profissão e, na minha opinião, muitos dos que a exercem são “n” vezes melhores que muitos “doutores” da lei. E, por que não? Jornalistas, até. O que resta para os formados é se organizar mais e – na pior das hipóteses – esperar que os veículos e organizações tenham sensibilidade e consideração por aqueles que, como disse, empenharam anos de suas vidas e, sobretudo, dedicação pela existência de um jornalismo cidadão, ancorado em interesses que são verdadeiramente públicos."

Patrícia Regina Schuster

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