- No inicio da carreira, você trabalhou apenas em dois veículos: rádio Educadora e rádio Cultura.. De plantonista passou a repórter e, desde 1998, assumiu a posição de coordenador. Como você avalia sua trajetória no rádio?
Comecei em 1988. Tínhamos muitas dificuldades para levantar informações. Não tínhamos celular e muito menos internet. Na Educadora comecei em uma função, hoje extinta, que era conhecida como rádio escuta. Como o próprio nome diz, ficava escutando as rádios de São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Essa era a nossa prioridade e, também, era o único meio de obtermos informações rápidas. Exerci essa função durante oito meses. Posteriormente, recebi o convite para exercer o mesmo trabalho na Rádio Cultura. Em 1990, mudei de função e passei a trabalhar com plantão esportivo. Convidei três amigos, para montar a minha própria equipe de plantão esportivo. Sempre fui muito rápido nas informações. Muito rápido mesmo. Saía um gol em São Paulo/Rio, das principais equipes do futebol brasileiro, e em menos de trinta segundos eu já informava. E aí eu me especializei no plantão esportivo e fiquei durante doze anos. Em 2002, meio contra minha vontade, fui colocado para ser repórter setorista do Uberlândia Esporte Clube. Foi quando pude transmitir vários campeonatos brasileiros, viajando por esse Brasil todo. Mais tarde vieram às transmissões da Unitri Basquete e de repórter esportivo, ainda em 2002, fui colocado como coordenador do departamento de Esportes. Paralelo a isso, exercia a função de repórter setorista do Uberlândia, até que chegou a oportunidade de mais um desafio: eu passei a ser narrador de futebol. A princípio não queria porque achava que não tinha garganta, mas o superintendente da Rádio, Ricardo Nery, me disse: ou você pega ou você larga (risos). E eu abracei e estou nessa função até hoje. Em 2003, fui promovido para ser coordenador artístico. E nesse caso, é muito complicado. Você é um verdadeiro pára-choque. O coordenador artístico de uma rádio é responsável pelo sucesso ou pelo fracasso. Se você é líder de audiência é o coordenador artístico. Se você perde em algum momento ou se você não é líder de audiência, é o coordenador artístico. Passaram-se 21 anos. Eu estou na empresa desde 1988. De rádio escuta até coordenador de programação.
- Rapidez e o dinamismo são características do plantão esportivo, certo?
Sim. É preciso ser rápido e preciso. Porém, não se pode confundir a rapidez com pressa. Parece que ser rápido e ter pressa são a mesma coisa, mas não são. Se você for afoito, você informa errado. E um detalhe: no plantão esportivo você jamais pode falar a palavra ACHO. A precisão com que trabalhávamos na década de 1990, uma época muito rica no rádio de Uberlândia, fez com que nosso trabalho fosse reconhecido com várias premiações.
- Você possui formação acadêmica na área de Comunicação?
Não. Sou educador físico. Mas entendo que o curso de Jornalismo é da mais alta importância. Hoje sou um jornalista, mas não adianta. Encontramos aqueles jornalistas da década de 1980 que conseguiram o registro definitivo, mas sou contra. Nunca quis. É muito importante a formação acadêmica.
- O rádio é um veículo de comunicação que exerce uma grande influência sobre a mentalidade da população, de questões financeiras a emocionais. Como você avalia esta situação?
O rádio é um veículo fascinante. Primeiro, ele só tem essa função que você me colocou desde que ele preste serviço a sociedade. Se você tiver um rádio que não preste serviço a sociedade, que seja um elo entre a comunidade e os poderes constituídos, você está fadado ao fracasso. Então, a partir do momento que a emissora passa a prestar serviço, ela [a emissora] começa a realizar o jornalismo comunitário absoluto. Nós estamos onde o povo está. Então o ouvinte sente que a emissora está ao lado dele. E a partir daí, ele forma sua opinião. O jornalismo executivo é muito bonito, muito interessante, mas eu entendo que o jornalismo comunitário, que é a área que a gente atua, ainda dá mais resultado.
- A Rádio Cultura afiliou-se a rede Globo de Rádio. Você acha que para se destacar, necessariamente, uma rádio precisa se afiliar a uma rede maior? Trabalhar, hoje, como afiliada é mais difícil?
Uberlândia é uma cidade completamente diferente das outras. Geograficamente ela é muito estratégica e mais da metade da população não é de Uberlândia. É uma cidade que tem muita gente de Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e especialmente nordestinos. E então quem faz rádio só para Uberlândia fracassa no Ibope. Uberlândia, como eu disse no inicio da resposta, é diferente. A gente precisa fazer rádio para todos. E em cima de pesquisa, a Rádio Globo emplaca perfeitamente naquilo que a cidade exige em relação às transmissões do futebol carioca, paulista, mineiro e de Uberlândia. Entendo que ninguém nessa cidade faria uma programação 100% local. Hoje, o ouvinte é exigente e quer informações rápidas e, principalmente, entretenimento. O ouvinte quer se sentir como parte da emissora e a Globo é isso. Esporte e entretenimento 24 horas. É uma rádio popular com qualidade. Não é uma rádio popularesca. Na primeira pesquisa Ibope pós filiação, a nossa emissora foi um sucesso. Uberlândia exige isso: fazer rádio para todos e para todas as regiões do País. Esse é o caminho. Os programas em rede não são feitos visando o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Existe uma uniformidade. São programas de prestação de serviços, de interesse popular. Não é o mesmo que ouvir, por exemplo, uma “rádio do Rio de Janeiro”. Você esta ouvindo a Rádio Globo, que é de interesse extremo e popular também para Uberlândia.
- A programação "amiga", intimista, voltada para prestação de serviços, música e informação são as principais características da rádio AM. Já as rádios FM se caracterizam por sua programação voltada para jovens com muita música, brincadeiras, sorteios e distribuição de ingressos para shows. Em sua opinião, quais as diferenças entre as rádios AM (amplitude modula) e FM (freqüência modulada)?
- O Rádio Digital está presente nos Estados Unidos, Canadá, México. No Brasil, as primeiras autorizações para a execução dos testes já aconteceram. Uberlândia recebeu autorização do Ministério das Telecomunicações para realizar transmissões digitais no rádio a partir deste mês (julho). Como você vê a inclusão do processo digital em rádio? A aceitação do público preocupa? Você acha que o tradicional rádio vai ser abandonado?
Não. Participei de um Congresso das afiliadas da Rádio Globo em São Paulo. Fiquei na capital paulista durante 4 dias e percebi que está muito fria a questão do rádio digital no Brasil. Por quê? Dia 14 de julho, como já informamos, aqui [Rádio Globo] se transformará em rádio digital, mas isso é pioneirismo deste grupo [Wander se refere à Rede Integração. Grupo do qual a Rádio Globo pertence] liderado pelo doutor Tubal [de Siqueira e Silva, presidente da Rede Integração]. Só que os fabricantes não estão esquentando em fabricar o rádio digital. Andei na cidade de São Paulo inteirinha procurando um radinho digital para eu comprar e não encontrei. E senão encontrei na 25 de Março ou nesses shoppings especializados que, existem aos montes em São Paulo, vou encontrar onde? Procurei por toda cidade: a pé, de táxi, de metrô. Não existe rádio digital em São Paulo. E até chegar esse rádio digital em todas as esquinas de Uberlândia, a internet já sucumbiu o rádio digital há muito tempo. O futuro do rádio é internet. Pode ter certeza absoluta disso. Nem o rádio digital vai superar a Internet. Eu entendo que é mais um projeto que vai chegar ao Brasil e não vai pegar, por que existe um fenômeno chamado internet. Quem não investir em boa qualidade de áudio na internet está fadado fracasso.
- Então como fica a situação das rádios que já transmitem com o sinal digital?
Na verdade é uma propaganda enganosa. Elas estão com o transmissor digital, mas não estavam autorizadas a operar. O nosso transmissor [da Rádio Globo Cultura] é digital. Internamente nos temos som digital. Mas agora temos a liberação. Aqui em Uberlândia, carros importados e de altíssimo valor já vêm com o sinal digital. Mas são poucos. Em São Paulo você chega nos balcões especializados em tecnologia e pergunta sobre o rádio digital. Todos entendem que são os aparelhos que possuem o visor digital. Não entendem queremos o HD. Eles [os vendedores] não sabem nem do que se trata. Então vai demorar para o rádio digital vingar e até lá, na minha opinião, todo mundo vai ter o seu computadorzinho, a internet e, enfim, vai demorar muito tempo ainda encontrar o rádio digital, principalmente aqui em Uberlândia.
- Em rádio, a locução é um elemento essencial e imprescindível por transmitir as informações verbais e determinar a forma do conteúdo radiofônico. Você utiliza alguma técnica específica?
Eu sempre trabalho com a voz. Até porque eu já sou locutor há quase 20 anos e a gente sempre tem que fazer um tratamento com a garganta. Isso por que aparece o nódulo. Na verdade é o famoso “calo” na garganta, falando bem simples. Então, existe toda uma técnica de exercícios para você aquecer a voz antes de entrar no ar. Mas olha, a verdade é a seguinte: pouquíssimos locutores fazem isso. É uma coisa muita chata. Se você fizer o aquecimento de voz ao pé da letra, é muito chato, é muito complicado (risos). Uma coisa muito importante para o rádio de hoje: já foi o tempo em que o locutor de rádio tinha que ter aquele vozeirão. Hoje, a comunicação precisa ser a mais simples possível. Tem que ser da mesma forma que estamos conversando aqui nessa entrevista. Aquele negócio de impostar a voz já ficou para trás. A locução deve ser normal para não doer o ouvido. É falar simples com as pessoas, sem impostar a voz. O eco também já acabou no rádio. A única coisa que você não precisa se preocupar é se a voz é feia ou bonita. Isso hoje não existe! Você senta no estúdio para fazer locução e tem que conversar com o ouvinte normalmente. Assim, sua mensagem é clara e direta. Não cometer os erros básicos de português, por que dói o ouvido e te joga lá pra baixo. A década de 1980 é que tinha que ter eco e locutor com “boa” voz.
- Uma das funções mais representativas da locução em mídia e inclusive em jornalismo é a narração esportiva. Você, atualmente, é o narrador oficial dos jogos do Uberlândia Esporte Clube e, sem dúvida, é a voz de gol mais conhecida do clube. Como é realizar esse tipo de trabalho?
É um sonho. Eu não vou mentir pra você. Quando eu te respondi das situações que foram acontecendo, desde rádio escuta até coordenador de esportes e narrador, era um sonho que eu não acreditava muito. Hoje, quando eu escuto as minhas narrações eu morro de vergonha.
- Sério?
Sério. Morro de vergonha. São horríveis. Eu sou muito exigente comigo mesmo. Mas muito exigente mesmo. No meio de uma frase quando eu perco o fôlego fico irritadíssimo. Eu sinto um prazer enorme em saber que, principalmente nos jogos fora de Uberlândia, sou o “cara” que está representando uma multidão de ouvintes. E o que mais me preocupa é passar o que realmente acontece em campo. Por exemplo, a falta. Criei um termo que eu uso muito (risos): bico da grande área. Mas não existe um “bico” na grande área? No encontro das linhas de fundo com a linha lateral. Eu cometo uma redundância absolutamente de propósito: curva da meia lua. A meia lua é toda em curva. Então não precisa falar curva. Mas isso é importante para o rádio. O narrador tem que fazer o ouvinte ver o jogo pelo rádio. Viajar na emoção. Por isso, que a narração no rádio é rápida demais e diferente da televisão.
- Você costuma usar algum jargão?
Não. Uso pouco. A galera é que me apelidou de Gigante de Minas e eu lancei o “belebelebele”: um “beleza” falado mais rapidamente. Esse jargão pegou e é uma febre na cidade. Fora isso, não gosto muito.
- Durante a cobertura esportiva, lado a lado com o Uberlândia Esporte Clube (UEC), você já vivenciou muitas situações. Houve alguma mais difícil de lidar? E uma mais cômica?
Olha, vou te contar um negócio: o futebol possui os bastidores muito sujo. Mas enfim, eu fiz uma transmissão do UEC 2 x 2 Ipatinga, lá em Ipatinga, no Vale do Aço. Foi em um domingo e na quarta-feira o UEC jogava em Nova Lima, contra o Villa Nova, na grande BH. Então o UEC ficou em Ipatinga. Acabou o jogo. 2 a 2. Fizemos a transmissão e cumprimos o compromisso profissional. Pós isso, nos fomos para uma churrascaria, lá mesmo em Ipatinga e fiquei por lá até 1h30. Quando estava chegando ao hotel, vi alguns jogadores do UEC amarrando lençóis uns aos outros, igual ao que os presos usam quando querem fugir. Fizeram uma corda com estes lençóis e estavam subindo, do lado de fora para os quartos, garrafas de cerveja. E quando eles me viram, falei da seguinte maneira: querem uma forcinha aí? (risos) Eles queriam morrer. E foi muito interessante porque esses jogadores acharam que eu ia divulgar isso na imprensa. E eu tenho um detalhe comigo: eu não quero nem saber de vida particular de jogador e de ninguém. E em cima disso, eu tenho muito respeito por esses jogadores do futebol mineiro. Eu conheço muito jogador de futebol, muito treinador e eles me respeitam muito porque minha pergunta é muito clara. E outra coisa para você garantir respeito: o que você fala no microfone no estúdio, você tem que ir lá e dar oportunidade para o jogador te responder. Eu gosto muito de ouvir os dois lados e o ouvinte que tire as conclusões dele. Até porque eu não sou o dono da verdade. Então, é por isso que temos prevalecido bem no mercado.
- Algum jogo ou gol inesquecível?
Paralelamente ao UEC já fiz muitas transmissões no Maracanã, no Morumbi. Olha, eu tinha 18 anos e transmiti uma final. Estava sozinho no Morumbi. Um jogo entre Palmeiras e São Paulo. Sozinho como repórter, sendo que a transmissão principal era em Belo Horizonte: final do Mineiro entre Cruzeiro e América. Esse jogo, para mim, foi inesquecível. É uma loucura. Agora, o gol que eu nunca vou esquecer, aconteceu em 2008, quando o Uberlândia subiu para a primeira divisão do Campeonato Mineiro. Foi em Araxá. Aquilo foi um teste para cardíaco (risos). O UEC tinha que ganhar do Araxá, em Araxá e torcer para a Caldense perder para o Itaúna. Aos 38 minutos do segundo tempo, o time de Itaúna abriu o placar contra a Caldense, de Poços de Caldas. Um minuto depois, o Uberlândia fez o gol. Nossa, aquilo ali pra mim foi... Nunca vou esquecer aquela adrenalina de Araxá. E o legal disso tudo foi o seguinte: na volta de Araxá, paramos no Retão [posto de combustíveis] para tomar um lanche e, mais tarde, encostaram três ou quatro ônibus da torcida do UEC. Prezo muito a humildade, mas tem coisas que mexem com a gente. Toda a imprensa da Rádio Globo Cultura, da Rádio América, da Rádio Educadora e da Rádio Itatiaia estava presente. Eram quatro emissoras de rádio. E a galera [torcida] do UEC desceu, com toda a imprensa reunida e me pegaram e ficaram me jogando para cima fazendo aquele gesto que todo mundo conhece. Como se eu tivesse alguma responsabilidade na classificação do UEC. E os outros colegas de imprensa ficaram olhando. Fiquei até com muita vergonha, mas enfim, certamente é uma resposta ao trabalho que a gente faz. E essas coisas marcam. Toda vez que eu chego no Retão, eu me lembro dessa cena.
- Na narração esportiva José Silvério, José Carlos Araújo, Willy Gonser, Oscar Ulisses, Alberto Rodrigues e Pedro Ernesto Denardin são destaques. Alguma referência?
Sei que o Willy Gonser e o Alberto Rodrigues são fenômenos em Belo Horizonte e em Minas Gerais toda. Se eu tiver uma carreira 30%, do que eles têm, eu posso me considerar um profissional realizado. Que isso fique muito claro. Mas eu sou fã da narração de São Paulo.
- É uma narração mais rápida e dinâmica.
Sim. Eu gosto da narração paulista. Oscar Ulisses e Silva Junior, no meu ponto de vista, são espetaculares. Antes eu acompanhei o Osmar Santos, que fez toda a revolução na narração esportiva. Era tudo muito robotizado. Aí apareceu o Osmar Santos, cheio de irreverência. Inclusive, o Oscar Ulisses é irmão dele. Uma família brilhante: Oscar Ulisses e Silva Junior. Primeiro que o Silva é muito novo na Rádio Globo, mas o Oscar Ulisses é o meu narrador. Eu não sou muito fã do estilo de narração do futebol carioca que é mais malandra e mais cantada. Mas o José Carlos Araújo, quando está no ar, pode juntar todas as outras emissoras AM e FM do Rio de Janeiro que ele tem mais audiência. E o slogan dele não é por acaso: o fenômeno do Ibope. Mas eu sou fã da narração paulista.
- Quais os seus projetos profissionais para esse ano?
Tenho minhas metas. Inclusive eu planejei minha carreira de acordo com a idade. Eu tenho 36 anos. Até os 44 eu tenho que estar narrando, dentro do meu projeto, em televisão. Mas aí eu vou focar minha carreira na narração. E o meu projeto também é, já no próximo ano, estar na SporTV. É uma meta e a TV [ Integração] já está me ajudando e logo estarei na SporTV fazendo essas transmissões que ninguém quer e que são as que eu mais gosto: futsal e basquete. Tenho convicção, que por aquilo que eu trabalhei e por aquilo que eu estou contatando, o ano que vem eu já tenho que estar na SporTV.
- Então para finalizar, hoje, você é um profissional realizado?
Não. Ainda não. Tenho minhas metas, e entre elas, transmitir três Copas do Mundo e três Olimpíadas. Aí sim e eu só não realizei essa meta por que eu disse um NÃO para a Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte. Em 1998, a Rádio Itatiaia me convidou e fez uma proposta concreta de trabalho e eu disse não (risos). Mas eu não era preparado. Até porque, naquela época eu estava indo para a reportagem. E repórter não é a minha área. O meu negócio é ancorar programas e narrar futebol. Eu faço reportagem porque rádio do interior exige. Agora, hoje, eu sou um cara preparado para ancorar qualquer tipo de programa e narrar futebol.